Gustavo Lins lança disco e garante que o samba não concorre com sertanejo ou funk: “Nossa fase de consolidação já passou”

Publicado em 10/07/2018 13:44
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Que o funk e o sertanejo vivem tempos áureos ninguém duvida, mas isso não significa que os outros gêneros musicais tenham ficado para trás.

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Há 16 anos na estrada representando o pagode romântico, Gustavo Lins, 32, diz que o samba ocupa um lugar próprio e que não pode ser substituído. “Essa fase de consolidação do samba já passou faz bastante tempo”, afirma o cantor e compositor em entrevista exclusiva ao Observatório dos Famosos.

Gustavo, que tem inúmeros sucessos gravados por grandes artistas como Alcione, Belo, Exaltasamba e Sorriso Maroto, está em processo de lançamento do seu oitavo álbum, Jardins e Desertos.

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As canções começaram a ser divulgadas quinzenalmente em seu canal no Youtube desde o mês abril, no projeto Um Jardim Pra Todos Nós. Ao todo, o disco reúne 13 faixas, que serão disponibilizadas para o público aos poucos, até o fim do ano. Lançado pelo selo do próprio artista, Clorofila Música, o sucessor de ‘Menos é mais’ (2015) apresenta composições inéditas.

Confira a entrevista na íntegra:

O que você destaca sobre a concepção deste novo disco e sobre a experiência que você deseja passar para o público com este trabalho?

O disco está saindo agora, mas o concebi há uns dois anos. Era uma vontade de fazer uma reverência ao movimento do pagode. É uma espécie de agradecimento. Compus muito nessa linha do pagode romântico. O pagode dos anos 90 por exemplo me influenciou muito como artista e compositor. Foi uma época que inspirou muita gente.

A escolha do repertório foi como? Escreveu especialmente para esse álbum ou garimpou as canções do seu acervo?

Na realidade fiquei uns oito meses compondo. De repente pincelei algo lá de trás, que já estava encaminhado, para dar segmento ao repertório. São músicas que às vezes você começa, não termina na hora e depois resolve finalizar. O disco tem, ao todo, 13 músicas. Algumas já estão disponíveis e outras serão lançadas quinzenalmente até o fim do ano.

Gustavo Lins (Foto: Divulgação/ Equipe Gustavo Lins)

Podemos dizer que esse tipo de lançamento virou uma tendência?

Acho que sim. As plataformas digitais impõem uma dinâmica nova. Como artista, sinceramente não vejo muita diferença. As músicas já estão prontas e o pessoal que está lançando é que fica responsável por essa etapa do formato. Deixei eles livres.

Como está o feedback do público?

O feedback tem sido bem interessante. Os ouvintes do Spotify estavam em torno de 70 mil e depois do lançamento pulamos para 200 mil ouvintes mensais. Acho que isso também mostra um pouco da minha história como artista, que começou há tantos anos…Não é uma coisa de momento, da pessoa que é a bola da vez. Tem muita gente que me acompanha, que prestigia meu trabalho. Fico feliz.

Você iniciou a carreira aos 16 anos e está com 32. Consegue fazer um balanço? Quais são os pontos e aprendizados que você pode destacar?

Acho que amadureci e superei muitos desafios. Uma coisa importante que tenho como lição de todo esse período e de tudo o que passei é que a relação que você tem com as pessoas e com a música, a relação social. Ter consciência do que o gênero representa para o Brasil, de que forma posso fazer para estar contribuindo, prestigiando as raízes do samba. Como diz a música Alguém Me Avisou, de Dona Ivone Lara, você tem que saber pisar no samba, pisar devagarinho. E entender qual lugar você vai ocupar ali. O samba é muito maior. O artista que quer representar e fazer sucesso, ele tem que trazer consigo muita responsabilidade social.

Você consegue se lembrar da sensação que teve ao fazer um show pela primeira vez?

Acho que no início da carreira você não diferencia tanto o que é estar ali organicamente como artista fazendo tudo acontecer, tecnicamente e profissionalmente. Quando você começa como artista, quer viver tudo ao mesmo tempo. Senti uma mistura de estar realizando um sonho e ao mesmo tempo estar ali com uma responsabilidade profissional.

Você falou sobre a importância social do samba. Há pouco tempo, um sertanejo falou que “samba é coisa de bandido”. Depois ele pediu desculpas, mas o fato bombou na web. Você sente que isso foi um episódio paralelo ou existe mesmo um estigma em relação ao samba?

Acho que foi uma declaração infeliz e não posso acreditar que tenha sido uma coisa séria. O rapaz até se desculpou. Pegou mal e eu acho que é justamente o contrário, sabe. O samba é uma música que assim como o futebol dá oportunidade para alguém ascender na vida. O samba tem que ser muito respeitado. Ele é uma ferramenta social, assim como o futebol. Acho que é justamente o contrário do que ele falou. O samba é um caminho para tantas mazelas que a gente vive e para tantas portas fechadas que encontramos…

O sertanejo e o funk estão no auge atualmente. Qual o lugar do pagode no cenário musical, hoje? Como fazer para se manter sempre em evidência?

Sinceramente, não acho que somos concorrentes. Não dá para colocar algo diferente no lugar do samba. Tem a coisa da batucada, do ritmo, que é um lugar próprio e que não dá para substituir. Existem várias coisas no mercado do entretenimento que podem influenciar. De repente, há uma vontade de algumas partes da indústria de mostrar mais um ritmo do que outro. Não são apenas questões musicais em si. Acho que o samba vai bem. Muito bem. Essa fase de consolidação do samba já passou faz bastante tempo.

Você, que é um cara que fala de amor, acha que as relações hoje em dia estão muito descartáveis?

Não sei. Existe essa percepção geral, mas eu acho que as coisas quando chegam em um limite, tendem a voltar. É tudo meio cíclico. Continuo com meu pagode, meu cavaquinho, meu violão e vamos que vamos.

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