Como Laura Neiva, mulheres diagnosticadas com epilepsia precisam planejar bem a gravidez

Publicado em 18/11/2019 17:24
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Em entrevista ao Observatório dos Famosos, a atriz Laura Neiva contou os detalhes de sua gravidez. A atriz curte os últimos momentos da gestação de Maria, fruto de seu relacionamento com o também ator Chay Suede. Na ocasião ela explicou quais os procedimentos que vêm tomando já que há sete anos foi diagnosticada com epilepsia.

Na edição de setembro da revista Marie Claire, Laura revelou que durante a gestação passou a ter mais crises de ausência, lapsos de consciência que podem durar de 5 a 30 segundos. Já as convulsões ela disse que foram raras durante a gestação. Os enjoos foram frequentes e o desejo de comer alimentos com queijo a surpreenderam.

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De acordo com a Liga Brasileira de Epilepsia, no mundo existem aproximadamente 50 milhões de pessoas portadoras da enfermidade, já no Brasil os números podem chegar a 3,6 milhões. 26 de março é conhecido como o Purple Day, o dia mundial de conscientização sobre a doença. O SUS dá assistência aos portadores da epilepsia.

Para especialistas há muitos mitos envolvendo a epilepsia, como por exemplo causas espirituais, mas com acompanhamento médico os pacientes podem sim ter uma vida normal e tranquila. E no caso das mulheres realizarem o sonho da maternidade.

Ao Observatório dos Famosos, a ginecologista e obstetra Ana Carolina Lucio Pereira, formada pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro com atualizações em Advanced Live Support-Obstetrics nos Estados Unidos e especialista na prevenção e tratamento de doenças gineco-obstétricas com foco em qualidade de vida, medicina interativa e gestação de alto risco, tirou dúvidas sobre a epilepsia.

Confira!

O que é epilepsia?

É a alteração neurológica do sistema nervoso central onde ocorrem intensas descargas elétricas que não podem ser controladas pela própria pessoa – que faz a parte consciente do cérebro se desligar por alguns períodos, causando sintomas como movimentos descontrolados do corpo e mordida da língua, por exemplo. Há vários tipos de epilepsia: parcial, total, e em graus diferentes.

Como se adquire a doença?

Pode ocorrer desde o nascimento, bem como se desenvolver em qualquer momento da vida, seja consequente a uma doença ou trauma cerebral, por exemplo, traumatismo craniano, após bater a cabeça ou hemorragia dentro do cérebro; má formação do cérebro durante a gestação; presença de síndromes neurológicas como Síndrome de West ou Síndrome Lennox-Gastaud; doenças neurológicas, como Alzheimer ou AVC (acidente vascular cerebral); falta de oxigênio durante o parto; baixos níveis de açúcar no sangue ou diminuição do cálcio ou magnésio; doenças infecciosas como a meningite, encefalite ou neurocisticercose; tumor no cérebro; febre alta; pré-disposição genética.

Há como evitar?

Não há meios de evitá-la, a não ser quando se trata de uma epilepsia em consequência da pré-eclampsia gestacional – que pode ser prevista por alguns sintomas premonitórios e medicá-la a tempo, a fim de não desencadearmos uma crise (ocorre no sinal de iminência de eclampsia).

Cura e tratamento?

Apesar de não haver cura, há tratamentos para controle da doença como medicamentos que regulam a excitabilidade do sistema nervoso central. Há vários desencadeantes da crise como agitação, alterações do sono, estresse, estímulo visual e auditivo.

E no caso das mulheres, elas podem engravidar?

A gestação deve ser bem planejada para reprogramarmos as medicações para uso, daquelas que não prejudicarão o desenvolvimento do bebê. Além disso, o ácido fólico (vitamina do complexo B) deverá ser suplementado em doses maiores do que as recomendadas de forma habitual, visto que as drogas antiepilépticas interagem com esta vitamina e podem aumentar má formação e alterações fetais físicas e de desenvolvimento neuromotor.

A lamotrigina é a droga de eleição e, a razão para isso, explicam os pesquisadores, é que as evidências apontam as duas drogas como as mais seguras para uso durante a gestação: baixas taxas de malformação e bons resultados cognitivos e comportamentais infantis.

Os medicamentos mais seguros costumam ter os níveis no sangue mais alterados no decorrer da gestação – e muito frequentemente precisamos aumentar a dose para evitar crises epilépticas na gravidez. No puerpério (após o parto), é necessário reduzir a dosagem para valores pré-gravídicos, evitando intoxicação medicamentosa.

O que fazer quando uma pessoa passa por um ataque epilético? Quais os principais mitos que envolvem a doença?

Sempre importante manter a calma quando presenciamos um ataque epilético: conferir apoio firme à cabeça do paciente, caso ele tenha movimentos involuntários, para evitarmos uma contusão. Ao contrário do que muito leigo diz, nunca tentar manipular língua dentes com intuito de “dessufocar” a pessoa, pois este ato colocará em risco sua própria integridade, sem nada ajudar ou contribuir.

As crises geralmente são rápidas e o doente logo volta à consciência. O paciente entra em estado pós-ictal (sonolência e/ou confusão mental prolongada). Ocorre amnésia de todo período de duração da crise, muitas vezes letárgico e sem entender o que houve. Não o hiperestimule, nem o surpreenda com atitudes intempestivas.

Crises na gravidez

Caso a paciente esteja grávida com movimentos tônicos clínicos, colocá-la deitada, de lado, sempre apoiando firme sua cabeça. A gravidez pode cursar com estados de convulsão que decorrem do aumento de pressão e pré-eclâmpsia. Pacientes com mau controle de sua pressão arterial têm mais chances de serem surpreendidas com eclâmpsia (condição rara para convulsão). Quadro muito comum em pacientes do SUS que muitas vezes não acompanham o pré-natal adequadamente para controle prévio de quadros hipertensivos associados à gestação.

Atendimento

Caso o paciente tenha diagnóstico prévio da doença, é bom que o mesmo seja reavaliado por seu médico a fim de reajuste das crises. Porém para aqueles que têm o primeiro episódio, deverão ser levados ao serviço de urgência e acompanhante descrever o que houve para ajudar na elucidação do provável diagnóstico e conduzir ao tratamento acertado. Já atendi convulsões (eclâmpsia), principalmente no SUS. É comum em usuárias de droga e hipertensas que não são bem controladas (medição de pressão arterial e medicamentos, em caso de necessidade).

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